Alch'Antra- A cidade Assombrada Pela Luz de F.R.Andrade -Capítulo 1
Olá Galerinha do Diário, hoje vamos recomeçar um antigo projeto chamado "FALA ESCRITOR" que TEM COMO OBJETIVO mostrar a face dos novos escritores nacionais .. essa semana conheci o escritor F.R.Andrade e ele fez uma entrevista muito boa com a gente e ainda liberou os três capítulos iniciais de sua obra ALCH' ANTRA- A CIDADE ASSOMBRADA PELA LUZ, para que pudéssemos conhecer ..
vamos a obra ..
vamos a obra ..
Capítulo I
—
Mas que droga!
Foi
a primeira coisa que se escutou na ala residencial de Ton’Hill, jovem meruviano
com aspectos humanoides e traços bem familiares aos nossos, de 25 órbitas
completas, 1,89cm de altura que o tornava um garoto nem muito alto e nem muito
baixo, olhos grandes que se afinavam nos cantos e com uma tonalidade vermelha
escura, pele cinza clara, sem pelos no corpo, nenhuma presença de orelha ou
nariz apenas orifícios que lhe serviam para o mesmo serviço, aproximadamente
75kg essa semana - essas variações nem ele entendia, mas devia ser pelo excesso
de porcarias que comia -, sempre tivera o corpo mais magro que o comum, isso
lhe rendia uma certa perseguição de seus “colegas”
de classe quando estudava as disciplinas básicas nos centros de ensino de
Alch’Antra; um jeito peculiar de andar, geralmente puxava mais a perna esquerda
do que a direita, e algumas cicatrizes nos braços e no rosto devido ao seu
desjeito com materiais pontudos.
Mas
nenhum aspecto físico o abalava no momento, só estava preocupado em achar o seu
escandaloso Incsog que emitia bipes estridentes de algum lugar do quarto. Os
olhos do jovem percorriam todo o cômodo; em baixo da cama, por cima dela, atrás
da porta, perto de um resto de comida que já estava há três dias no chão, e
então fez o que deveria ter feito antes de procurar; fechou os olhos, sentou na
cama cruzando os menores dos seus 4 dedos de cada mão - Meruvianos tem uma capacidade
de fazer projeções temporais de curto espaço de tempo e apenas um único lugar -
Após alguns segundos de olhos fechados, ele começou a ter uma pequena visão
esfumaçada do seu quarto, até entrar em transe por completo, podia ver a si
mesmo deitado e babando em todo lençol, era sempre uma sensação estranha para
Ton’, percorrer o quarto e ver ele mesmo dormindo logo ali, sem poder lhe
cutucar o pé, ou enfiar o dedo em seu orifício auditivo como era de costume o
breve lampejo de infantilidade. Seu quarto num tom mais opaco foi ficando cada
vez mais distante e Ton’ percebeu que estava se distraindo. Concentrou-se mais
um pouco e conseguiu fazer uma projeção para algumas horas antes, ficou sentado
na cama e dentro de minutos viu um meruviano que andava bem engraçado entrando
pela porta, jogando suas coisas do trabalho pelo chão e guardando o seu
dispositivo na gaveta do armário, antes de fechar a cômoda por completo, Ton’
tinha saído da projeção e já sabia onde pegar aquele maldito aparelho que não
parava de fazer todo aquele escândalo. Logo após fazer a sua refeição, fez uma
checagem rápida de todos os seus materiais, deu uma última olhada para o quarto
e dizendo aquele seu mantra que repetia todos os dias desde que saiu das casas
dos pais “Quem esteve aqui?”.
A
ala onde Ton’Hill morava era um emaranhado de apartamentos, ou “apertamentos” como ele costuma dizer,
quartos de 4 metros quadrados onde apenas um meruviano podia viver, apesar do
pequeno espaço, Ton’ não passava muita necessidade. O governo arcava com a
metade dos créditos e o morador com a outra metade, mas esse benefício só era concedido
com a comprovação de que o portador da ala estivesse vinculado
profissionalmente em algum segmento tecnológico-cientifico de Alch’Antra. O
jovem meruviano trabalha na LGNS, empresa responsável pela grande produção de
AlphaVirginits de todo continente, uma das pioneiras no ramo e muito aclamada;
Ton’Hill tinha conseguido seu emprego graças as suas notas na FGAA (Faculdade
Governamental de Alch’Antra) onde em sua primeira órbita do curso de Engenharia
de Altas Energias, já garantiria o emprego. Através disso, Ton’ recebeu uma das
melhores regalias dadas pelo governo, o famigerado visto F.G (Fornecedor de
Gnose) onde Ton’ apelidava de “Filhotes
do Governo”, o passe servia para ter livre acesso a diversas áreas de lazer
na cidade sem ter que gastar nenhum crédito meruviano para isso.
Enquanto
Ton’Hill caminhava pelas vias de Alch’Antra, acostumado com aquele ritmo
frenético do coração da cidade, contemplava o cotidiano dali, as conduções
públicas que pareciam peixes gigantes flutuavam sobre linhas em um verde claro
desenhado ao longo de todas as pistas marcadas no ar, os prédios das grandes
empresas em formas de L também flutuavam alguns metros do chão, isso se
explicava devido à grande “Afeição”,
foi o nome que deram pra uma série de terremotos que aconteceram por lá a
dezenas de órbitas atrás. Alch’Antra é a segunda maior cidade de Baldátena, com
aproximadamente 14 milhões de habitantes, o coração suporte de todo um planeta;
o fluxo de conduções públicas e particulares era gigantesco, meruvianos andando,
correndo, conversando, falando aos seus incsogs, parecia que ninguém ligava
para quem estava do lado. Apesar de ser o centro da cidade, aquele local dava a
impressão de que os meruvianos apenas transitavam por ali, com muita pressa e
sem a mínima vontade de interagir com ninguém. Entre os prédios e conduções,
podia se ver algumas telas que traziam a logo da Vahlla, governo central do
planeta, emitiam notícias do cotidiano para todos os meruvianos que estavam
trabalhando ou que trafegavam pelas ruas, notícias onde todos paravam pelo
menos 5 minutos da sua tão corrida vida para prestar atenção no que dizia a
desanimada voz robótica.
Praticamente em todo o canto da cidade era
possível ver logotipos da Vahlla, um globo cinza que representava Zadrena a
estrela mãe, e três riscos atravessavam a estrela, dois na horizontal e um na
vertical, o único que estava na vertical simbolizava Baldátena o planeta
clarividente, os outros dois representavam respectivamente Rasmal’Tar e
Wyvires, planetas que faziam parte da PrimAliança.
Ton’
checava seu Incsog, um aparelho que todo meruviano tinha, mas não existia
nenhuma diferença entre os modelos, todos os habitantes compravam o mesmo, a
única diferença era a cor, porém, da mesma geração e mesma série; até porque
quem os fabricava era o governo que restringia o mercado para outros
produtores. O Incsog era uma espécie de super celular, que servia para todos os
tipos de tarefas do dia-a-dia, desde programar seus horários, verificar quanto
de crédito ainda restava, planejar cardápios a distância, criar projeções em
holograma com seus amigos, e o principal para Ton’, jogar seus jogos online.
Após caminhar 15 minutos pela Via Rochant
chegou a estação Imiritas de onde partiam as conduções, com viagens programadas
via Incsog; Ton’ já havia marcado a de hoje e dos próximos 45 dias
antecipadamente já sabendo onde iria se sentar. Ao chegar no acento que já
piscava seu nome em uma tela translucida, ajustou o cinto que lhe apertou com
uma pressão relativamente confortante, verificou na biblioteca do seu Incsog
qual música iria escutar na silenciosa viagem de exatamente 37 minutos; fechou
os olhos na tentativa de tirar mais um cochilo antes de chegar ao trabalho.
Viajar em uma dessas conduções era algo extremamente tranquilo, pois o grande
peixe viajava sem encostar no solo, para os passageiros do vagão 4587-B. O
grande peixe era preenchido por destino, não havia parada ao longo do percurso,
apenas na estação final que ficava a alguns metros do trabalho de Ton’. As
luzes ficavam mais amenas durante a manhã, justamente para que os meruvianos
pudessem ter mais um momento de descanso antes de ir para o trabalho. Não
demorou muito para Ton’ relaxar todo o corpo, o clima está favorável a isso, e
sem avisar o meruviano já estava solando ao embalo de sua música favorita,
Screenager.
Não
muito longe do centro de Alch’Antra, Kal’Gana repassava seus materiais para sua
primeira experiência profissional, ela iria ser monitora das aulas de seu pai
Laor’Ner que lecionava história de AlphasVirginitis na F.G.AA(Faculdade
Governamental de Alch’Antra), esta oportunidade de participar da atividade
acadêmica iria lhe render algumas horas em campo para concluir todos os
requisitos no processo de seleção do novo membro da VinciTus, empresa
responsável por experimentos envolvendo AhpaVirginits; era o objetivo da vida
dela, desde criança seu pai lhe contava a história dos Av, aquilo foi crescendo
dentro de Kal’ que passou de desejo profissional para obsessão, ela precisava
participar daquela equipe nem que isso lhe custasse todos os dias de sua vida.
Verificou
sua roupa impecavelmente bem justa ao corpo, deu uma última olhada no espelho
onde viu o reflexo de uma meruviana de 23 órbitas academicamente bem vividas,
seus 1,74cm de altura lhe agradavam perfeitamente, pois delineava as curvas de seu corpo de maneira agradável;
uma pele cinza clara e tão lisa como uma manta de seda que acabara de ser
tecida, uma jovem que arrancava desejos de muitos alunos de seu pai que na
grande maioria das vezes vinham até a ala residencial de Laor’, justamente para
ter a esperança de conseguir um sorriso da jovem meruviana, justificando a
visita com algum exercício que precisava entregar. O grande alvo de elogios de
Kal’ eram os seus olhos, num tom mais amarelado que parecia o nosso sol que os
meruvianos jamais iriam conhecer, aquela cor era exótica, já que 98% da
população daquele planeta possuía olhos em tons vermelhos ou roxos. Sua beleza
era apenas um complemento mínimo para a jovem meruviana que se destacava muito
mais pela sua capacidade de raciocínio do que pelas curvas de suas pernas.
—
Não acredito que você vai se atrasar de novo, ainda mais hoje. — Disse Kal’
irritada pela demora de seu pai. — É o meu primeiro dia de trabalho, me
desculpe, mas é algo grandioso para nós dois, principalmente para mim.
Após
morosos minutos de espera, o meruviano de meia idade com porte atlético,
beirando os 2 metros de altura distribuídos em 95kg, saiu impecavelmente bem
arrumado do seu quarto, trajando como um típico uniforme de professor; um
macacão justo ao corpo de cor marrom, que trazia detalhes em verde nos ombros e
uma grande linha vermelha escura ao lado de suas pernas e no peito vinham dois
símbolos, um da faculdade e outro da Vahlla. Laor’Ner tinha por costume usar o
mesmo perfume de sua esposa, isso na verdade era uma homenagem, que após o seu
falecimento, era o único método de sempre deixa-la viva em casa.
—
Filha, veja pra mim se os controladores de coleta de lixo estão ajustados para
hoje à noite — Disse Laor’ enquanto abafava uma ligação inesperada em seu
Incsog.
Com
ar de dúvida Kal’ pensou mais de uma vez antes de indagar:
—
M..mas eu reajustei ontem pela noite, e seria um absurdo eu cometer qualquer
erro desse tipo. — Reclamou Kal’ subestimada
—
Se eu estou pedindo para você verificar agora é porque eles estão desajustado,
Kal’. Por favor, verifique! — Laor’ segurou o grito.
Depois
que Kal’ saiu da sala, ele digitou rapidamente como se fosse ser pego a
qualquer momento, nas teclas que apareciam pairando no ar em hologramas, olhava
diversas vezes em direção a Kal’ que estava de costas resmungando enquanto
verifica uma caixa metálica que ficava na porta do apartamento, após alguns
segundos guardou o Incsog no bolso e só ficou aliviado ao escutar o bipe que o
aparelho emitia após concluir uma tarefa.
“NÃO ME LIGUE A QUALQUER HORA, ESPERE
A MINHA LIGAÇÃO COMO COMBINADO” – mensagem enviada.
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